Record de adesão de rádio amadores Portugueses a participarem no International Lighthouse and Lightship Weekend 2012

21-08-2012 11:25

 

Hobby centenário está vivo e recomenda-se. Evento mundial teve recorde de portugueses

 

 

  • Radioamadores

 

 

 

“Quando estiverem boas condições para comunicar com EUA e Canadá é que vai ser.                 São loucos. Às vezes até fazem fila, como se fossem aviões para aterrar.” José Araújo                e António Claro, locutor e informático, tentam explicar a paixão que este                               fim-de-semana levou radioamadores a ocupar 471 faróis e barcos faroleiros em todo                 o mundo, enquanto se desdobram em lições sobre frequências e propagação    electromagnética. O mundo do radioamadorismo não é para leigos (ou para leigos               sem aulas de física desde o 9.o ano), mas o entusiasmo contagia. Se o hobby vai            somando anos despercebido, acaba de acusar alguma vitalidade: a participação           portuguesa num dos maiores eventos da classe, o International Lighthouse and            Lightship Weekend (IILW), bateu este ano o recorde. Houve rádios em onze faróis e geralmente não passam de meia dúzia.

Com arames e canas de pesca, o grupo de amigos radioamadores da zona do Porto         montou uma antena no farol da Boa Nova, em Leça da Palmeira. Como ninguém            ligava um rádio no farol desde 1995, era de esperar um tráfego acima da média.                  Pelas 18h somavam 80 emissões. Entre a maioria de europeus, à força das condições atmosféricas, havia dois mais remotos: Gronelândia e Marrocos.

O alfabeto fonético é obrigatório. Começam pelo indicativo criado para o farol      –          Charlie Romeo 5 Lima (CR5L) – mas cada um tem a sua matrícula, um indicativo          pessoal e intransmissível. “Geralmente não se conversa. Às vezes até trocamos mais informações técnicas, sobre que equipamento se está a usar. Isto é mais um jogo,                    de tentar aperfeiçoar a técnica para emitir”, explica Claro, de 48 anos. Na bagagem                 de 20 anos de radioamador tem uma emissão para a estação russa MIR. “Não é                   estar aqui e aparecer um astronauta, é planeado. É preciso esperar pela aproximação               do satélite e emitir em frequências específicas, UHF ou VHF. Temos colegas que têm           falado para a estação internacional. Com as condições certas, até dá com um                    walkie-talkie.”

Em desafios como o ILLW coleccionam emissões para lugares onde geralmente                     não há ninguém, daí o empenho em ir rodando de farol todos os anos.                                       O troféu chega na forma de um postal por cada emissão, explica Araújo, 47 anos,   radioamador desde 1986. Em casa já guarda mais de 300 e tem um mapa                             com todos os destinos assinalados com alfinetes. Num universo de 6000               radioamadores portugueses – dos quais mil serão “praticantes” – cada um                          acaba por ter a sua onda, adianta. Uns vão ao detalhe de coleccionar estados,                     outros só emitem em morse. Outros ainda, mais velhos, usam o rádio como telefone.            “Há dez anos era comum apanharmos alguém em Angola ou Brasil que nos dava                     um número para ligarmos a um familiar a dizer que estava tudo bem.                                       O fascínio é podermos continuar a comunicar com tecnologia                                                    que já existia há 100 anos.”

Mais do que um aumento de radioamadores, a vontade de desafio poderá explicar                      a adesão ao ILLW. “Isto acaba por ser um bocado rotineiro, por isso gostamos                    destas novas iniciativas, de vir para faróis e ilhas desertas                                                            em vez de ficar em casa a emitir”, brinca Paulo Teixeira, jornalista de 47 anos.                        Em 2008 estiveram nas ilhas selvagens e há 15 dias rumaram às Berlengas para                  outro evento do género, a competição Islands on the Air. Teixeira é dos três                                  o mais viciado,     ou afincado. Todos os dias, pelas 7h30, liga o rádio e fica                              por lá à escuta meia hora enquanto bebe o café. É o jogging? “É o meu jogging”, ri.

 

 

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